Daqui a dois
meses chego ao oitavo semestre da faculdade de jornalismo. Nesse tempo todo,
não trabalhei na área uma vez sequer. Não estagiei na agência experimental, não
fiz freelances e me sinto muito pouco jornalista. Comparo, e a comparação é
algo que não faz bem pra alma, meu desempenho com os dos outros colegas e,
absolutamente sempre, tenho a certeza de que fiz pior. Fiz menos, fui
insuficiente.
Agora, pensando
nisso tudo e pensando sobre esse sentimento de me formar em jornalismo sem me
sentir jornalista, olho para a primeira edição do Unicom que produzimos e me
sinto melhor.
Talvez umas das
principais funções do jornal laboratório seja essa: nos fazer sentir
jornalistas. Se me orgulho da minha matéria? Menos do que gostaria. Dá pra
perceber, no que digo algumas linhas acima, que reconhecer talento em mim não é
um dos meus fortes. Mas quando abro o jornal, exatamente ao meio, me deparo com
duas páginas que terminam assinadas por mim.
Lembro das
visitas que fiz, das pessoas com quem conversei, de todas as informações que
ficaram de fora dos seis mil caracteres estipulados. Lembro de ouvir do João, o dono do hostel que visitei, o quanto ele ficava feliz por responder uma entrevista
pessoalmente, e o fato de me considerar mais jornalista por ter ido lá conversar
com ele e conhecer o lugar. Logo eu, que me considero tão ninguém.
Pouco antes de
eu propor ao João uma entrevista, uma matéria sobre o hostel saiu na revista de
uma companhia aérea. Não me recordo agora, Gol ou Tam. Sei disso porque ele me
contou com certa indignação que ninguém daquela revista havia conversado com
ele. Um dia, simplesmente, viu sua empresa publicada lá.
Tudo o que constava
naquelas linhas havia sido retirado da internet, e ninguém se deu ao trabalho
de saber se o João tinha algo a mais a dizer. Mas eu sou
jornalista mesmo, segundo ele. Eu fui até lá. Eu olhei nos olhos do João
enquanto tentava compreender a história daquele lugar. Bebi café na cozinha que
descrevi, sentei no sofá da sala que fotografei. Senti os cheiros, a textura das
paredes.
Não é que em
outras cadeiras eu não tenha escrito reportagens. Mas no Unicom eu pude me sentir
jornalista quando vi ela impressa no papel. Organizada cuidadosamente entre
outros textos tão bem escritos, de gente que me acompanha há mais de três anos na faculdade e de quem eu desconhecia a voz literária.
O trabalho é
pesado. O estresse quase inevitável. Mas maior do que os problemas é o orgulho
que a gente sente quando vê que é capaz de produzir material de qualidade, e
que ao nosso lado têm pessoas tão boas no que fazem. E não estou mais me comparando, já
disse que faz mal, mas essas pessoas e esse jornal em fizeram sentir um pouco mais jornalista.
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