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Destaques

Lançamento do Unicom Conflitos reúne profissionais para debate com alunos

A nova edição do Jornal Unicom, produzida em cima do tema “Conflitos que transformam”, teve o lançamento oficial na noite dessa segunda-feira, 27, em um evento onde o assunto central da publicação foi debatido. Mediado pelo professor Demétrio de Azeredo Sóster, o debate iniciou após as 19h30, no auditório do Memorial da Unisc, e teve como convidados à mesa o jornalista Rodrigo Lopes, a psicóloga e socióloga Gabriela Maia e o sociólogo e professor Luiz Augusto Campis. No primeiro momento, os três convidados tiveram a oportunidade de falar sobre conflitos que transformam – para o bem ou para o mal – a partir das perspectivas profissionais e pessoais de cada um. Quem deu início a essa fase foi Gabriela, que tratou majoritariamente sobre questões de gênero e a violência acerca disso. Dando sequência, com uma perspectiva mais sociológica, Campis falou sobre a Teoria do Conflito Social, de Karl Marx, relacionando-a com a realidade. Para finalizar, Lopes fez uma breve apresentação so

O relato de um trauma

Exclusivo para o Blog do Unicom, o relato de um trauma. Um acidente que desencadeou um medo a ser enfrentado seguidamente.


"Olá, meu nome é Mariele Gomes. No dia 19 de fevereiro de 2011 era uma das passageiras do ônibus que transportava a banda musical onde eu trabalhava. De acordo com a perícia, uma falha mecânica fez com que o motorista perdesse o controle da direção do ônibus. Caímos de uma ponte, pelas 4 horas da madrugada, entre os municípios de São Gabriel e Santa Margarida do Sul. A sensação foi horrorosa. Acordar em meio a gritos...parecia que o ônibus estava voando. De repente o impacto jogou todo o nosso equipamento musical por cima de mim. No momento, ficou difícil assimilar o que estava acontecendo. Quando me dei por conta, não conseguia me mexer, mal podia respirar, já que o teclado ficou contra o meu pescoço. Caímos dentro do Arroio das Canas, na época com pouca água, mas ainda assim, o medo de morrer afogada embaixo de todo aquele equipamento foi algo indescritível. Quando um colega me localizou e começou a chamar pelo meu nome, eu não conseguia responder. Ouvi alguém dizer: 'Meu Deus, a Mari. Tenho até medo de levantar essas caixas de som'. Nesse momento, juntei o restante das forças que ainda tinha e de alguma forma consegui mexer uma daquelas caixas. Imediatamente começaram a gritar meu nome e tiraram uma a uma de cima de mim. A dor física era insuportável, o gosto de sangue na boca, a falta de ar, os pés, braços e pernas muito inchados, mas a dor emocional ao saber que meus colegas tinham sido lançados dentro da água e a esposa de um deles ainda não havia sido encontrada, realmente era o que mais me assustava. Para sair do coletivo, foi preciso arrombar uma saída de emergência na parte superior. Como eu não conseguia subir e não sabia nadar, um colega precisou entrar na água, arrombar uma janela do ônibus e me retirar no colo. Fiquei por algumas horas ou talvez minutos, não sei exatamente, jogada no chão, sentindo cheiro de sangue, ouvindo gritos de socorro em meio à madrugada e uma dor insuportável, sem saber como aquilo tudo terminaria. Definitivamente me fez perder a noção de tempo. Afinal, ninguém sabia que embaixo daquela ponte havia um ônibus cheio de pessoas feridas. O socorro chegou, foi preciso acionar os bombeiros, considerando o difícil acesso do local. Desmaiei. Acordei chegando ao hospital e percebi o olhar atento e preocupado da socorrista que já havia me entubado. Não tive fraturas, somente muitas lesões. As mais doloridas são as emocionais. Ainda hoje consigo me lembrar daquele cheiro, do estouro, da freada, dos gritos. 

Foto: Antônia Laísa - Cenário de Notícias/São Gabriel
Eis meu maior medo, vivenciar novamente essa situação. Entrar novamente em um ônibus realmente foi algo muito difícil, mas aconteceu duas semanas após o acidente, já que teríamos que cumprir um contrato de trabalho. As lágrimas foram constantes. Subir no palco descalça pois calçados não entravam em meus pés e ser aplaudida calorosamente pelo público da festa foi consolador, inesquecível, mas também dolorido. Medo, apenas esse. De sofrer, de não ver saída num momento de dor, de achar que tudo está acabado e não poder sequer se despedir das pessoas que se ama. Até hoje andar de ônibus me causa apreensão, mas considerando que o acidente aconteceu em 2011, posso dizer que não fico mais em pânico a qualquer movimento brusco que percebo."

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