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Lançamento do Unicom Conflitos reúne profissionais para debate com alunos

A nova edição do Jornal Unicom, produzida em cima do tema “Conflitos que transformam”, teve o lançamento oficial na noite dessa segunda-feira, 27, em um evento onde o assunto central da publicação foi debatido. Mediado pelo professor Demétrio de Azeredo Sóster, o debate iniciou após as 19h30, no auditório do Memorial da Unisc, e teve como convidados à mesa o jornalista Rodrigo Lopes, a psicóloga e socióloga Gabriela Maia e o sociólogo e professor Luiz Augusto Campis. No primeiro momento, os três convidados tiveram a oportunidade de falar sobre conflitos que transformam – para o bem ou para o mal – a partir das perspectivas profissionais e pessoais de cada um. Quem deu início a essa fase foi Gabriela, que tratou majoritariamente sobre questões de gênero e a violência acerca disso. Dando sequência, com uma perspectiva mais sociológica, Campis falou sobre a Teoria do Conflito Social, de Karl Marx, relacionando-a com a realidade. Para finalizar, Lopes fez uma breve apresentação so

Um homem no asfalto

Não lembro se fazia frio ou calor, mas lembro de que já escrevi essas linhas dentro de mim, várias e várias vezes. Quase permanentes. Quase tatuadas. Quase com vida própria. Até agora. Até então. Hoje elas nascem de quem já não está mais vivo, mas de quem já foi e então virou sílaba, palavra e linha.
Podia ser quinta-feira, ou sexta. Acho que até era véspera de feriado. Enfim, não importa, já passou. Recordo que eu estava sentada em um banco do lado da janela do ônibus com nome de avião. Encolhida em mim mesma, adormeci com um livro em mãos. Passei pelas curvas com nome de cobras e por a cidade que se chega e se vai embora em (quase) sete segundos.
O asfalto esburacado não me acordou. Até que, por algo que eu não achei resposta, eu abri os olhos, ainda anuviados pelo sono corriqueiro. E o vi, no chão. De braços abertos para o céu. Como se fosse uma cruz estendida. Ele jazia. Ele ninguém. Ele e a morte. E o fim. E o nada. E eu a olhar, com os mesmos olhos anuviados, não agora pelo sono, mas por torpor.
Eu não sei quem ele era. Sinto que nunca saberei. Procurei seu nome no jornal. Alguma notícia mal escrita no portal local. Liguei e não desliguei o rádio até retornar da viagem. Pedi para conhecidos e desconhecidos se sabiam daquele homem. Nada. Nem uma pólvora. Nem um rastro. Nada. Ninguém. Nenhum aviso. Nome: desconhecido.
Já deve ter se passado um ano, mas lembro daquela imagem. A cor da sua pele queimada pelo sol. Da boca entreaberta. Dos olhos fechados, como se dormissem em um pesadelo. O último deles. Na mão uma sacola plástica de supermercado, dentro alguns papéis de ofício branco. Documentos. Do banco ou do sindicato, exames médicos. Eu não sei. A sacola tinha um nó. O último nó que ele fez.  
Um boné de colono, com nome de fumageira permanecia na cabeça. Vestindo jeans azul e barato. Uma camisa polo verde claro, destinada a ser roupa de sair - provavelmente ganhada de segunda mão de um parente abastado. E os sapatos? Como posso esquecer-me daqueles sapatos marrons da loja Pepé Calçados. Meus olhos fixos nele. No que ele foi. Todos os olhos do ônibus grudados nas janelas. Eu no ônibus. O homem escorrendo no asfalto. Ele pobre. Agricultor. Talvez pai de família. Analfabeto. Peão da roça. Filho. Invisível. Pobre coitado calado. Marginalizado. Sem nome e sem registro. Sem o que eu nunca saberei, incógnita.

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